Sem limites: a via do Bodhisattva 4

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Especificamente nesta tradição Zen – nas demais tradições Zen também, assim como noutras tradições Budistas – existem aquilo a que chamamos de Os Quatro Votos, ou os Votos do Bodhisattva. Normalmente, ao final do dia, depois do último período sentado, cantamos estes votos. Um Bodhisattva é alguém que ouve, vê, sente, experiencia, as mágoas do mundo, a dor, o sofrimento, o desconforto… e age de maneira a resolver isso. Depois de experienciar a unicidade da vida, a verdadeira natureza do eu e do outro, o bodhisattva age de acordo com a sua experiência de vida para além dos seus gostos e não-gostos. O Bodhisattva não age porque ele acha que é bom, ou porque gosta ou não gosta disso, ou porque acha que deve ou não deve agir assim. A sua ação é mais ampla e mais profunda do que isso. Um Bodhisattva é alguém que deixa os outros seguir em frente. É uma situação equivalente a quando alguém levou o meu saquinho do chá – vendo o que precisava ser feito – para que eu pudesse seguir em frente.

Portanto, os Quatro Votos…

O primeiro destes votos é: O número de seres sensíveis é infinito, eu faço voto de os salvar. Os seres sensíveis são todos os seres vivos – não apenas os seres humanos – e estes são ilimitados, demasiados para se contarem. Eles são sem número, não podem ser contados. E eu estou a fazer o voto de os salvar a todos… Isto levanta algumas questões. Quando ouvimos este voto provavelmente pensamos, “Bem, isto é impossível! Isto é absurdo! Se são ilimitados como é que os posso salvar a todos?” E o que é que significa “salvar”, de qualquer maneira? “Isso também é absurdo”, podemos pensar. “Quem sou eu para salvar alguém?” No entanto, fazemos este voto, apesar de ser incompreensível, apesar de desafiar a lógica. A mera definição de Zen desafia a lógica! Falha uma definição: não é uma escola, não é uma doutrina, não é uma religião, não é uma crença, não é uma filosofia. Não pode ser percebido; pode apenas ser experienciado. E o primeiro voto nesta prática indescritível, é incompreensível: a quantidade de seres vivos está para além daquilo que a minha mente consegue perceber, não os consigo contar, e eu vou salvá-los a todos, embora não saiba o que signifique “salvar”?

Este voto pode ser ilustrado por uma história que uma vez li. Centenas, talvez milhares, de estrelas do mar foram deixadas na praia pela maré. É maré baixa e as criaturas ficaram presas na areia. Uma criança anda pelo meio delas, enchendo o seu balde com algumas estrelas do mar que depois leva ao mar. Um adulto passa por perto e pergunta-lhe o que ela faz, levando de cada vez algumas estrelas até à água.

“Estou a salvar as estrelas do mar”, diz a criança.

O adulto ri. “És muito querida, mas estás a desperdiçar o teu tempo!, aponta o adulto. “É impossível salvares todas estas estrelas do mar, no teu pequeno balde, indo de um lado para o outro assim.”

“Talvez”, diz a criança. “Mas para esta estrela que devolvo ao mar, isso faz toda a diferença do mundo!”.

É a diferença entre vida e morte. É assim que tomamos este voto. Reconhecemos que são em número infinito, que é uma tarefa sem fim! Mas o que importa é que sendo as estrelas do mar – ou seres vivos – ilimitados, cada um deles importa, cada momento importa. Tudo aquilo que precisamos prestar atenção agora mesmo é a este, aqui. O voto é simplesmente para estar presente aqui e agora, para além dos meus gostos e não-gostos, para além das minhas opiniões, da minha lógica, do meu raciocínio intelectual e conhecimento, as minhas crenças e noções. O que é que está aqui, agora? O que precisa ser feito neste momento?

 

Ensinamento de Sensei Amy Hollowell

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